segunda-feira, julho 02, 2007

Analepses

O Pedro Granger é paneleiro.
A minha dúvida é só se devo ficar surpreendido ou se no fundo sempre soube.
É que eu tenho um sensor-aranha mas para paneleiros, e quando passa algum por mim começo a apitar dentro da cabeça. Isto é verídico.
Verdade seja dita, não fui sempre assim, eu já tinha cá o sensor mas não estava calibrado e só quando fui a Madrid, mais propriamente numa zona chamada Chueca, é que completei um curso daqueles intensivos em paneleirice e, finalmente, apurei este sentido.
Voltando ao Granger, disseram-me que o gajo é mesmo paneleiro, e se formos a ver até faz sentido, o gajo usa um relógio em cada pulso.
Nunca percebi o porquê dos dois relógios. Deve ser um género de sinalizador para os restantes paneleiros.


Quando andava na creche, para aí com três quatro anos, havia um miúdo muito durão, muito rebelde, era o badboy da creche. Chamava-se Tiago Machado(nome fictício).
O Tiago, um dia, levou um soco do Carlitos e partiu-lhe um dente. Na altura o Carlitos devia ter metade do tamanho do outro mas como era muito nervoso o soco saiu-lhe, diga-se, bem.
Nós costumávamos brincar numa àrvore muito muito alta, que embora hoje o ramo mais alto esteja ao nível do meu tamanho, com quatro anos aquilo parecia uma sequóia milenar.
A brincadeira, ainda que para putos sem todos os dentes, era de Homem, que consistia em saltarmos do ramo mais alto para o chão a ver quem era o valente.
O Tiago achava que era muito valente mas nunca havia trepado a àrvore, então, um dia, eu e mais dois amigos pendurámo-nos no ramo até ele quebrar mas sem cair.
Depois disto, dissemos assim ao Tiago:

- Oh Tiago, cheiras a cócó se não saltares lá de cima
- O Tiago é bébé, o Tiago é bébé, o Tiago cheira a chulé
- Tiago, seu palhaço de merda, saltas ou não?

Por acaso, a última não dissemos, porque palhaços na alturam eram fixes. E Calipos e Push-Pops.

Ora, o Tiago levou aquilo um bocado a peito e subiu lá acima. Passados dez segundos estava no chão a chorar que aquilo partiu-se e partiu-se ele, também.
Esta deve ser das minhas memórias mais lívidas, e também felizes, daquela creche, por sinal, muito porreira.
Não tenho mais memórias do Tiago até cerca de dez, doze anos depois quando o encontrei no liceu.
Estava eu a entrar no liceu, o sensor dispara-me, olho em frente e vejo um gajo muito apaneleirado, muito betinho a gesticular como uma doida, e com umas merdas a brilhar nos pulsos.
Não é que o maricas andava com dois relógios como o Granger!!


Estariam, provavelmente, à espera da moral da história, não era?
Não vai haver, até porque não reflecti muito sobre o que escrevi.
Ou talvez a moral seja não usarem dois relógios, ou se usarem, não se chamarem Pedro Granger(também que merda de nome, mais valia meter um acento circunflexo no "e" e cortava o "r") nem Tiago Machado.


E já agora, fica a questão:
Paneleirice tem origem ambiental ou ele já ia para o outro lado quer caisse, ou não, da àrvore?



Nostálgico, G.

1 comentário:

Anónimo disse...

Nao te recrimines dizem que esta relacionado com um gene qualquer provavelmente so o despoletaste!
Porque Machado O_o? bolas..

Tens um sensor-aranha e nao e so pra paneleiros ó!