segunda-feira, janeiro 16, 2006

Presidenciais 2006

Hoje, nada de paródia, nem um pouco de galhofa...o assunto é sério.
Temos vários candidatos..ouvi até falar de uma professora que foi filmada enquanto se dirigia ao Tribunal Constitucional para apresentação das assinaturas. Contudo, como não tenho presente se as ditas foram aceites ou não, vou apenas falar daqueles que de há um mês para cá têm feito manchetes nos jornais e aparecido diariamente nas televisões (Cavaco Silva, Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa, Manuel alegre e Mário Soares) e daquele a quem foi imposta a ausência nos primeiros debates em fase de pré-campanha e que agora já vai sendo protegido pelo direito de antena (Garcia Pereira). Primeiro facto preocupante: desequilíbrio de ideologias. A representação da direita é assegurada apenas por Cavaco Silva enquanto a esquerda é defendida pelos outros cinco candidatos, seja ela a esquerda mais extremista de Louçã ou Garcia Pereira, a aparentemente mais moderada de Manuel Alegre ou a mesquinha esquerda "Soariana". Defendo, sem hesitações, o professor Cavaco Silva porque tem tido a capacidade e classe de ouvir acusações fundadas nem se sabe bem em quê por parte dos restantes candidatos e manter-se sereno. É notória a união da esquerda, não sei até que ponto se justifica, mas friso a forma, para uns indelicada, para outros correcta, com que Cavaco Silva se tem alheado de batalhas pessoais, procurando estreitar a sua relação com as massas que o têm apoiado. Lamenta-se contudo a pouca capacidade retórica. Muito seguro, porém demasiado calculista. Quanto à esquerda, começando por Francisco Louçã, muito pouco há a comentar. O seu discurso variou pouquíssimo no último mês relativamente àquilo que o mesmo tem sido no último ano. Preocupa-se legitimamente, com problemas de fundo que estão à vista de todos, mas não apresenta medidas concretas para os mesmos, sendo que muitos deles me suscitam dúvidas quanto à possibilidade de ser o Presidente da República a resolvê-los. Um discurso claramente de esquerda, porém demasiado elitista e académico, acaba por escapar a mais de metade daquilo que é o eleitorado do BE. Garcia Pereira não tem tido muitas oportunidades para se fazer ouvir (refiro-me a debates) mas é, dos candidatos de esquerda, a par de Manuel Alegre, aquele que não tem centrado a sua argumentação no combate a uma vitória de Cavaco Silva. Um bem haja. Jerónimo de Sousa, cuja campanha me surpreendeu imenso nas eleições legislativas, tem vindo a cair na enfadonha ladainha comunista à qual Álvaro Cunhal e Carlos Carvalhas durante tanto tempo nos habituaram. Uma desilusão nas tentativas de se aproximar do povo. Extrema facilidade de levantar problemas. Extrema dificuldade em oferecer soluções credíveis. Manuel Alegre..para mim a maior surpresa. Pouco conhecia do candidato poeta até ao último mês. Tem demonstrado ser um bom orador, tem mantido a serenidade e tem tido capacidade de se manter, também ele, alheio a batalhas pessoas. Tem sido capaz de contrapor à direita apenas as questões que a ideologia de esquerda moralmente lhe impõe. Contudo, demasiado preso ao 25 de Abril, esquecendo-se por vezes que os tempos são outros. Por fim, a maior desilusão de todas, Mário Soares. Incapaz de descer do pedestal ao qual subiu no último mês, baseia a sua campanha numa batalha pessoal com Cavaco Silva. Ataca de forma mesquinha. Defende-se de forma ainda pior. Tem tentado incessantemente perfurar a barreira de indiferença erguida pelo seu principal adversário mas sem resultados práticos. Poder-se-ia valer, quem sabe, da sua figura carismática. No entanto, mantém-se altivo e arrogante como nunca, o que me leva a crer que, pelo contrário, está a denegrir a imagem que o povvo português tinha de si. Perdeu a classe e com ela grande parte do eleitorado.
Finalmente e num plano geral, parece-me injustificado o temor que os candidatos apresentam relativamente à possibilidade de uma dissolução do Parlamento. Leia-se a Constituição e facilmente se conclui que o processo não é do quotidiano e não será aceite sem justificações muito fortes. Se, como Mário Soares tem dito, à fase de medidas impopulares por parte do Governo, se seguir a fase de estabilização, não haverá riscos de que o Presidente necessite de recorrer ao seu maior poder. Confie-se em quem apresentar soluções, em quem demonstrar maior capacidade de ser forte na defesa dos interesses do país e deixe-se de uma vez por todas de fazer da campanha presidencial uma campanha de partidos. Ela é, acima de tudo, uma campanha que se quer personificada.

"O" F.

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei da análise, apesar de haver certos pontos em que estamos em desacordo: não me parece que soares tenha adopatdo um tom tão altivo assim, peca, a meu ver, exclusivamente, por ter feito de cavaco silva - e não de Portugal - o seu objectivo; quanto a louçã, acho que a análise que fazes e acima de tudo consequência da forma como as televisões nos o apresentam. Mas ainda assim, gostei muito de ver-te discorrer sobre um tema sério, de forma séria.

ps.: mais coisas destas e isto tá um blog à la pseudo-intelectuais - lololol