terça-feira, janeiro 31, 2006

Sociedade Consumista?!

Desculpem-me todos vocês pela ausência de quase um mês..estive embrulhado na fase mais dura da minha já longa carreira de estudante. O culminar do esforço acumulado ao longo de um semestre. O orgasmo seguinte a meses de estudo afincado (ou não..). Assim, estou vivo, este post prova-o, e pronto a ser bardina outra vez.
Aqui vai. O post vai a meias, como o são os sentimentos que lhe dão sentido.
"Sociedade de consumo" parece idiotice. Porquê? Porque dá ideia que é da sociedade a culpa deste consumismo desmesurado. Tudo mentira..fruto de palavras tolas de alguém.
No fundo, se algumas vezes (e isto para tantos como eu funciona várias vezes por semana) desligamos o botão da forretice, tiramos as nossas vendas anti-montra, a culpa não é nossa. Isto acontece porque existem os centros comerciais. Acontece porque algum dia alguém se lembrou que ser altruísta e oferecer coisas era arcaico. E acontece também porque algum dia alguém se lembrou que vender sozinho não tinha piada nenhuma..e daqui surgiu a concorrência.
E o que é que a concorrência faz?..faz-nos acreditar que somos muito astutos, que ascendemos ao altar dos manhosos (e isso faz-nos sentir lindamente), porque conseguimos comprar o que queriamos no sitio mais barato..a verdade..é que se não houvesse a opção mais barata não o teríamos comprado. Ter-nos-íamos poupado a mais uma futilidade.
Com isto o capitalismo cresceu, nós odiamo-lo, achamo-lo sujo, mesquinho e hipócrita, mas fazemos tudo para que ele não deixe de existir. Perdemos a pureza..deixámos de valer pelo que somos para passar a querer valer pelo que ostentamos. Privamo-nos de negociar com o senhor Acácio ou a dona Arminda para comprar em lojas grandes e para quem não valemos mais do que o denheiro que estamos dispostos a gastar com eles.
Revejam-se nesta situação: Acordo de manhã. Levanto-me, urino, deito-me de novo. Ligo a televisão e, ou estou em dia sim, ou então, nos três primeiros canais por onde passar, lá estão os anúncios publicitários a dar-me os bons dias (ou tardes…). Abro a janela meia hora depois para deixar a luz (e ar puro) entrar. Primeira visão: dia sim - gaja boa; dia não - Pastelaria Águas do Monte e, mais à direita, "Vende-se Moradias". Vou almoçar. Desde a caixa de cereais, passando pelo pacote de arroz, ovos e comida congelada, todas as suas embalagens incentivam à compra de 50 unidades iguais áquela para se poder participar num sorteio e, então sim, sermos candidatos a ganhar um prémio sob a forma de carro, casa ou vale de compras. Resultado: nunca ganhamos e nunca conhecemos ninguém que tenha ganho.
Saio de casa. Vinte metros depois de ter saído pela porta do prédio, escorrego num pedaço de merda que estava no chão deixado gentilmente pelo cão da vizinha de cima. Dou uso, então, a um daqueles flyers (onde se anunciam as grandes promoções de uma empresa de mobiliário ou convenções espirituais, que seguem pelas ruas ao sabor do vento). Sigo para a escola, olho para a direita e lá está a IKEA a vender madeira preciosa de Cabinda ao preço da chuva… Ignoro e sigo, na minha, alegre. À entrada da escola, o HK dá uso à sua fama e convida-nos para mais uma das suas festas. Fazer, aqui um parêntesis..(para dizer que quando eu convido alguém para vir a minha casa, não cobro 20€ à entrada e ofereço duas bebidas brancas ou cinco imperiais…).
E se pensas que ao chegares ao auditório te vês livre dessa pressão..enganas-te. Há sempre um “Destak” ou “Metro” que, para além de nos darem notícias do que se passa em Portugal, trazem também todos os Professores Mestres Videntes “Afro-Franceses” ligados ao espiritismo e à mudança de vida de uma pessoa, como o Fofana, o Alaje, o Bambo ou o Karamba. Acabam as aulas.
Volto pra casa..pelo caminho uma carrinha a anunciar a abertura do novo Inter-Marché ou a chegada do Circo Chen. Vejo anúncios na TV. Desligo-a. So tenho um resto de pilhas biológicas pra gastar. Escrevo este post. Durmo e espero que amanhã seja diferente.

Contem quantas destas iniciativas não nos fariam gastar dinheiro e tirem as vossas conclusões.

Consumidos, d.C. e "O" F.

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