quinta-feira, dezembro 08, 2005

Era um menu 3 se faz favor

Boa noite caros leitores, se acordaram só agora bom dia, se, porventura, estiverem entre as duas e as sete e meia da tarde, obviamente, boa tarde, e ainda, se, quiçá, estiverem sob a influência de uma qualquer substância psicotrópica ou relacionada e não souberem onde estão nem como vieram aqui parar, penso que um simples olá se apropria admiravelmente.

Venho-vos hoje relatar um episódio, da qual fui vítima, que não sendo recente, conserva ainda hoje os ingredientes que na altura me desassossegaram e que hoje me fazem rir, ainda que lacónicamente.

Certo dia, eu e uns amigos laureávamos num qualquer centro comercial, mirando umas lojas, contemplando as várias hostes do género feminino, maioritariamente, essa espécie em notório crescendo - as tias ; estudando o seu comportamento em grupo e na presença de facções inimigas; posso-vos dizer que não é um espectáculo agradável de ser ver, não me vou alongar neste tema, apenas posso adiantar que um simples colar ou outro adereço relacionado com indumentária da espécie, que outro membro, exterior ao bando, possua igual, é, imediatamente, objecto de tal escárnio, zombaria e desdém que a simples recordação já me vem acompanhada dum arrepio na espinha, qual não foi o meu choque e melindre, ao presenciar aquelas atrocidades.
Digo com toda a certeza, a Natureza é cruel.

Com isto já me estou a dispersar do que vos falava no princípio..
Portanto, depois deste safari resolvemos ir petiscar qualquer coisa, e prontamente ascendemos ao terceiro andar (zona dos restaurantes, snack-bars e congéneres).
Saturados das idas ao MacDonald's que, diga-se, tornou-se um chavão cada vez que visitávamos este género de locais, então resolvemos dar mais uns passos á frente, e escolher algo mais "Português", que é esse antro de importação massiça de baguettes que, originalmente, se chamava Pans Company, mas actualmente se "naturalizou" como Casa das Sandes.
Como cidadãos civilizados que somos, ordeiramente nos colocámos na fila, onde eu fiquei em último.
Enquanto esperava, deslizava a vista pelos vários menus, atendendo á relação preço/qualidade, já que me encontrava limitado financeiramente, até que me decidi, estava convicto da minha escolha, havia eleito o Menu 3 como primeira opção, e não ia voltar atrás.
Sorria, sentia que tinha feito a melhor escolha, e naquele momento tudo parecia encaminhado, estava prestes a concretizar o meu pedido, era o próximo na fila, o meu sorriso transparecia a minha ansiedade e ao mesmo tempo a convicção do Menu 3 ser o tudo o que eu desejava..e mais.
Finalmente chegou a minha altura, estava nervoso, era a minha primeira vez na Casa das Sandes, ia ser atendido, latejava de emoção, e o discurso protagonizado entre a minha pessoa (eu) e a senhora do balcão (ela) foi o seguinte:

- Boa tarde!!
- Boa tarde, o que é que vai desejar?
- Eu queria um Menu 3 se faz favor.
- Dois?
- Não, não, um!
- E para beber?
- Coca cola se faz favor.
- São xx,xx euros (não me recordo do valor, desculpem), o seu pedido sai já.

Agora, tudo se resumia a uma questão de segundos, o magnífico Menu 3 estava a ser aprontado especialmente para mim, e eu regozijava de alegria, tal criança em véspera de Natal.
A senhora coloca a minha baguete (agora só com um "t", já que estamos na Casa das Sandes) num tabuleiro, agarro nele com firmeza e dirijo-me para a mesa dos meus companheiros de baguetes (mais uma vez, só um "t").
Sento-me, o meu corpo treme, sinto o coração a bater, batidas vigorosas de contentamento, a língua contorce-se, salivando, sabendo que dentro de milésimas de segundo, deglutirá uma deliciosa baguete (já não preciso dizer nada, já sabem), as pupilas dilatam, as mãos humedecidas da tensão, desse jogo da espera, essas, apoderam-se daquela comida dos deuses e conduzem-na à boca culminando tudo numa dentada monumental, que tão cedo quem presenciou não se irá esquecer, quando que..BLAHHKHK COF COF TUFTUF(entenda-se cuspo), que'sta merda pah!! Milho?? Soja?? Não foi isto que eu pedi f***-se (nesta altura já estava exaltado e nada do que me diziam fazia sentido, continuei num lançamento de palavras mais vernáculas, que respeitosamente, não vou transcrever, até, finalmente, me acalmar).

Não queria acreditar, aquilo por que ansiava, por que tanto havia aspirado, tinha sido destruído apenas com uma dentada, continuava sem entender como uma crueldade, uma desumanidade daquelas me podia ter acontecido.

Agarrei no recibo, aí li a seguinte frase "x1 Menu 1 € xx,xx".

Pensei para mim, há pessoas muit'a estúpidas, valha-me Deus...e lembrei-me da conversa com a senhora do balcão!!


G.

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