segunda-feira, dezembro 05, 2005

Nós..e a grandiosa vizinha Espanha!!!

Haverá por aí alguém que nunca tenha ouvido do fundo de um qualquer transporte público, numa dessas fatídicas manhãs “pós-diminuição das pensões de reforma” ou “pós-aumento dos impostos”, o lamento desesperado de uma velhinha de Campo de Ourique ou de um meliante cujo passatempo preferido é arrancar os auto-colantes que sinalizam os lugares das grávidas relativamente à vergonha que cresce dentro de cada um de nós, Portugueses (a letra maiúscula não é, de todo, desprovida de sentido…), por vivermos neste país? Pois bem..se os há (e disso não duvido, porque aqueles que deviam ouvir não andam de transporte público) eu não sou um deles. E como sou, antes de mais, um patriota, fico incomodado com o sentimento de descrença que prolifera a olhos vistos por aí! Senão veja-se: o facto não é difícil de comprovar. É questão de se lançar um desabafo num sítio amplo e mais ou menos público, mais ou menos parecido com “esses gajos querem é o poleiro!!” ou “quando chegam ao poder são todos iguais..tão lá é p’a lixar o Zé Povinho!!” e esperar o feed back.. Não demorará, concerteza, muito tempo até que algum compatriota se junte a nós nas críticas e daí para a frente são minutos até se ouvir “pra isto mais valia ser Espanhol!!” ou “bom era que a Espanha conquistasse isto!”… Caros amigos da cultura…eu pergunto: O que é isto??!?!? Será que alguém tem noção do que isto significa? Significa, muito simplesmente, que os portugueses já não trazem aquele brilhozinho nos olhos quando ouvem um qualquer clássico do José Cid, comem um pastel de Belém ou assistem a um Benfica-Sporting (a colocação desse clube inofensivo em primeiro lugar deve-se exclusivamente a questões de entoação..nada mais). Pior..já nem sequer temos orgulho na Padeira de Aljubarrota. O que se deseja quando se liberta uma dessas exclamações disparatadas é que a senhora ande às voltas e cabeçadas no túmulo e que, caso o tempo voltasse atrás, no dia da Batalha a dita idosa tivesse tido uma daquelas cólicas capazes de endireitar um marreco. Assim estaríamos neste momento a anos-luz de sermos “os melhores no pior” em toda a Europa e ainda assim termos orgulho de saber que há por esse Mundo fora países bem piores que nós. Aquilo que ouviríamos nos autocarros seria apenas e só “oh si cariño!” e “hey hombre!!”..Seríamos adeptos assíduos desse espectáculo bárbaro em que um animal com cornos e enfurecido corre sem razão aparente e no qual o desafio é um grupo de senhores com fatos brilhantes de lantejoulas atravessarem uma arena com farpas na mão (e a terminologia deve-se a sugestão de um amigo..) sem que o imbecil do animal se atire deliberadamente contra as ditas, esvaindo-se em sangue. Num pequeno aparte aproveitar para dizer que nunca vi nenhum deles conseguir. O raio do bicho consegue espetar-se sempre (e nunca consegui entender porquê..). Enfim..se ser português é mau..ser espanhol é ser inútil. Espanha é um dos sítios onde o tempo parou na altura em que as monarquias começaram a cair. Ou, porventura, a entidade superior que fez questão de as derrubar esqueceu-se de Espanha; Espanha teve um ditador que foi uma imitação de Salazar; Espanha descobriu, numa tentativa falhada de confeccionar um arroz de marisco, a “paella”; não fossemos nós a assegurar a consistência da península há não sei quantos séculos e Espanha seria, com alguma dose de futurologia à mistura, um grupo de ilhotas desabitadas à deriva no pacífico. Mas deixemo-nos de falar da vizinha Espanha..os lusos descontentes (atrevo-me a arriscar que se tivessem bombas atómicas seriam um lobby quase comparável à associação dos amigos de Olivença) partilham as suas tormentas comigo e eu começo a dirigir impropérios ao belo país das touradas (se bem que não sei o que isso é) em vez de me centrar no essencial. Quero apelar ao bom senso de todos! (aqueles que neste momento já abandonaram o assento – são certamente a maioria – estão, logicamente excluídos) Gostava de ver um olhar orgulhoso na cara de todos vós. Orgulho em estarmos atrás da Grécia em tudo (ahhh!! é verdade…na violência doméstica eles ainda estão a desenvolver infra-estruturas básicas); orgulho em termos lojas do cidadão que nasceram para facilitar a vida a todos e hão-de “morrer” por complicarem aquilo que se pretendia ser uma burocracia interminável mas simplista com as suas filas nas quais entramos às 9 da manhã e às 3 da tarde ainda estamos encostados ao mesmo pilar (isto se formos uns sortudos e nos encostarmos a um); ou por isso ou por um “cliente” do SEF ter uma crise de nervos e detonar a bomba que todos eles trazem à volta da cintura (não vá ser necessário o uso de alguma persuasão..); orgulho em termos políticos que gastam fortunas públicas e delapidam o nosso património a tentar ser uma imitação daqueles que realmente detêm o poder (hoje de manhã fiquei perplexo quando li que há perspectivas de o conseguirem lá para o ano 2083…fiquei entusiasmadíssimo com o facto de saber que talvez os meus filhos o presenciem); orgulho em desenvolvermos um litoral e conseguirmos acordar todos os dias sem nos lembrar que o interior também existe (mas isso deve ser por pensarmos que esses “sortudos” já são espanhóis); finalmente orgulho em sermos o povo mais invejoso do mundo, onde reconhecer mérito de alguém é algo que só se faz na presença da pessoa em causa para “parecer bem”, de tal modo que aqueles que são mesmo bons em alguma coisa têm que “fugir” para bem longe, para lá, onde ninguém os conhece, passarem a ser conhecidos. Há de certeza muitas coisas que vos ocorrem neste momento (para além de “se este gajo morresse em vez de escrever estas parvoíces já nem precisávamos de ser espanhóis!”) mas não pensem que me esqueci. Alguém que pretende mudar o Mundo não pode dar-se ao luxo de ter “esquecimentos”. Foi uma questão meramente metodológica, como compreenderão.
Agora lembrem-se…ser português é, pelo menos, ser diferente. E se uma destas manhãs o vosso vizinho vos elogiar a cor do carro ou a dobra das calças…desconfiem. Não vá ele querer apenas sodomizar-vos o miúdo mais novo..

Saudações revolucionárias..obrigado pela companhia..até breve!!

“O” F. (ou “El F.” para aqueles que não consegui convencer…)

1 comentário:

Anónimo disse...

"O F" tem alguma razão no que diz neste texto com que nos presenteou e que ornamentam, agora, o meu calmo jantar, propício a um comentário ao nível das suas palavras. Na verdade os meus desejos futuros raramente passam pelo nosso país, pelo contrário, voam até às montanhas norueguesas ou aos lagos frios da Finlândia, mas, e com toda a certeza afirmo, que n invejo a frieza sentimental dos franceses, que n conseguem transmitir a um filho o calor de um abraço; nao invejo a mediocridade da cultura dos espanhóis (que ainda hoje me pergunto se já serão homo sapiens sapiens ou, pelo contrário, vivem ainda na época dos cro magnons);n invejo a inteligência fechada alemã;n invejo os records de suicidas dos paises nordicos...n os invejo!prefiro,como tu, ficar com o José Cid e os pasteis de belém. Parabéns pelo blog*